sábado, 25 de dezembro de 2010

é natal

em mim.

Depois de um mês atribulado e denso, que me trouxe sentimentos e emoções extremas que não conhecia em mim, depois de os sentir, da impotência de não os conseguir afugentar, nem ocultar cá dentro, cá fora muito a custo (há sempre aquela tentativa de auto-negação, do humana e socialmente correcto, 'não, eu não sinto isso' ) , depois de os atravessar, assustada senti-los intensos e avassaladores, depois de os liberar, chorar e libertar todos aqueles arcaicos resquícios em mim, eis que chega por fim o natal.

O primeiro natal sem os filhos à beira (porque eles vivem dentro de mim), o natal mais parco de gente (ao longo dos anos vai diminuindo.. )  mas não o mais pequeno.

Um natal sem enfeites, nem decorações, sem muitos dos tradicionais doces (as rabanadas que fiz, resistiram) , sem troca efusiva de prendinhas (ó mãe, -dizia Artur pelo telefone- vamos estar com a avó na passagem, não vamos? abrimos nessa altura, concordas Nuno? mmm, está bem...mas vou ficar curioso..) , sem atropelos nem confusões, sem angústia, nem lágrimas, nem mágoas.

Um natal aceite.

Um natal simples, partilhado à mesa tradicional, à volta de bacalhau e batatas e grelos, e descomprometidos e agradáveis dedos de conversa.

Um natal a duas, mãe e filha em comunhão, com um passado de turras e sentimentos atribulados que se vão diluindo, burilando e transformando ao longo dos anos e dos esforços do nosso crescimento.

Lembranças de chocolate trocadas, mimos de amor consentidos.


Um natal sentido, partilhado, agradecido. Nunca sabemos quando pode ser o nosso último natal ou momento por aqui. 

Um natal, tranquilo, em paz, sobretudo connosco e depois com os outros (há palavras e gestos de carinho que guardarei para sempre).

Um natal feliz, desejado e oferecido aos outros e devolvido para mim.


 

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