quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Liberdade



" A minha liberdade termina quando começa a do outro", é uma frase que ouço amiúde.

Entendo-a como os limites da minha liberdade de fazer, de agir, quando esse agir não afecta ou não diz respeito só a mim, mas implica a inclusão de um outro.
E aí, porque não se trata apenas de um indivíduo, aí entra o respeito, esse conceito fundamental, tão oprimido e ignorado.

O Respeito implica reconhecer no outro a sua unidade e individualidade, a sua idiossincrasia e numa vertente que se aceite, holística, a sua centelha divina.
E essa capacidade de reconhecer, de perceber um todo indivisível, leva-nos a ver o outro como alguém igual a nós e a 'reverencia-lo', ou a respeita-lo nessa condição.

Um Irmão. Independentemente das suas escolhas, dos seus comportamentos, dos seus atributos ou características, apesar de tudo isso.
Ser Irmão, não implica a concordância dos seus actos, mas a aceitação.
Não significa que aprove actos ilícitos, ou actitudes que considere ausentes de luz, de amor. Significa que aceito a sua capacidade de errar; que aceito a sua incapacidade (ainda ou de momento) de fazer ou ser melhor; que percebo as suas limitações humanas, circunstânciais; que não condeno os seus actos; que ao alcance do possível exemplo incondicional dos meus, poderei contribuir para maior lucidez e crescimento.
[não, não é tarefa fácil]

A minha liberdade implica esse respeito profundo pelo Outro e a aceitação suprema da sua liberdade, da sua capacidade de pensar, de agir e de ser, mesmo que não seja (sobretudo se não é ) de acordo com os meus parâmetros, gostos, vivências, valores.

Dar ao outro de facto a liberdade de ser ele mesmo e viver de acordo com a sua etapa evolutiva, de acordo com os processos evolutivos que tem em mãos.

Não sou mais do que Ele em nada. Sou diferente e sou também igual.
Distingue-nos a bagagem hereditária, familiar, social, energética, cármica, profissional (...) ; une-nos a base energética comum, a centelha cósmica, a oportunidade vivencial de cumprirmos determinados e distintos pressupostos e atingirmos ( ou não) outros patamares de luz.

Cabe-nos a cada minuto fazer as escolhas que nos afastam ou aproximam dessa Luz.

O julgamento e o não-julgamento.
Quando julgo alguém, estou a limitar a sua liberdade de ser, estou a julgar-me acima, melhor ( ou também abaixo, inferior ).
Estou a definir ( e restringir) o seu comportamento de acordo com a minha visão, vivência, preconceito, ideia, ilusão.
Estou a colocar-me no lugar do outro, (e a obrigá-lo a ocupar o meu) . Um lugar impossível, porque é só dele. No meu lugar (tal como no dele) só há espaço, capacidade para existir um, o próprio.

Não estou a negar os valores em que acredito (...) estou somente a dizer que os comportamentos cabem aos seus autores, assim como a eles cabe todas as consequências dos mesmos.
Cada um é responsável dos actos que pratica, cada um saberá/terá à luz da sua vivência e consciência, razões, motivos para os praticar, cada um receberá tarde ou cedo os efeitos, as repercussões dos seus pensamentos, dos seus actos, numa lógica incontornável, inevitável ainda que por vezes aparentemente incompreensível e injusta.

Apurar os nossos pensamentos, sentimentos, acções, eis a questão.
Numa tarefa diária, constante, zelosa, de vigília, identificação e adequação. Perceber onde acaba o que sou ( de facto, acção ) e começa a resposta ao outro (reacção) perante o que me disse ou fez.

Frequentemente agimos/respondemos dando ouvidos ao Ego em vez de ouvir a Alma.
E essa erva daninha e caprichosa insinua-se e intromete-se sem pudor ou piedade.

A quem quero agora dar ouvidos?