«Só duas nações – a Grécia passada e o Portugal futuro – receberam dos deuses a concessão de serem não só elas, mas também todas as outras», disse Fernando Pessoa. Na realidade, Portugal foi criado expressamente com o objectivo de materializar o «Projecto Universalista Templário». E foi especificamente para não subverter o «Projecto» que Portugal foi criado independente de Espanha. Na primeira metade da nossa História, Portugal assumiu a «Missão dos Descobrimentos» e manteve uma independência excepcional face a Espanha; e, agora, Portugal continuará a existir, neste novo ciclo histórico, se assumir a conclusão do «Projecto Universal». Quer dizer, deixaria de ter sentido a sua própria existência, se Portugal renegasse o cumprimento da sua Missão. Com efeito, Portugal nasceu em função do «Projecto Templário»: – não teria feito os «Descobrimentos», se não tivesse conseguido manter a independência face a Espanha; e também, agora, não poderia concluir o «Projecto Universal» se viesse a ser assimilado por Espanha. Ora, há, presentemente, um certo risco de Portugal ser completamente integrado no território espanhol, de ser engolido por Espanha. E isso comprometeria a possibilidade do cumprimento da Missão de Portugal no Mundo. Ontem, Portugal operou os «Descobrimentos»; enquanto a Espanha fez conquistas. Hoje, pretendemos implementar o «Quinto Império», mas a Bem da Humanidade, exclusivamente em função dos genuínos interesses da Humanidade em toda a sua globalidade planetária. E para manter essa pureza de projecto, é necessário que Portugal continue a ser um pequeno país independente dos nossos irmãos espanhóis.
Os Descobrimentos Henriquinos lançaram o Projecto Templário de materializar a conjugação alquímica do Oriente e do Ocidente, e de que resultou, numa primeira fase, a mundialização da vida na Terra. Hoje, pretendemos concluir a “Capela Imperfeita” dos Descobrimentos, isto é, aprofundar a Missão Templária e realizar a conjugação alquímica do Oriente e do Ocidente a todos os níveis – espiritual, cultural, politicamente, etc.. É esta a perspectiva da integração planetária universal que os Templários de algum modo conseguiram inculcar na Cultura Portuguesa. E na linha da qual se inscreveram já os Descobrimentos Henriquinos; e de uma forma ainda mais aprofundada e conclusiva também, agora, a Teoria do Campo (Caminho) Unitário cuja gestação material se inicia em Outubro de 1977, conforme o pré-determinara, exactamente, o Mestre Fernando Pessoa.
É, então, o nascimento da Teoria do Campo (Caminho) Unitário o que Fernando Pessoa prevê para 1977-1978? Como sabê-lo? Como interpretá-lo? Só há uma maneira: – entrar na pele de Fernando Pessoa. Uma interpretação destas tem forçosamente de fundamentar-se no conhecimento do sentir profundo da pessoa em causa. Portanto, a grande interrogação em evidência é absolutamente incontroversa e muito fácil de enunciar: – com que “linhas” essencialmente Fernando Pessoa se cosia? As linhas do fardamento militar? As linhas com que se tecem os jogos do poder económico, político? Afinal, Fernando Pessoa era essencialmente o quê? Pois bem, Fernando Pessoa era essencialmente um homem de cultura. Fernando Pessoa estava essencialmente centrado no universo cultural. E ele próprio o declara sem margem alguma para dúvidas: – «o Império Cultural é o determinante». Portanto, Fernando Pessoa, nesse célebre horóscopo, referia-se exactamente a um acontecimento cultural: – à Grande Revolução Cultural impulsionadora do Quinto Império que será, precisamente, o Império da Ciência e da Inteligência.
A ideia do Quinto Império na tradição profética portuguesa, no essencial, não é outra que a veiculada pela “profecia” grega acerca daquele tampo em que os homens se hão-de parecer ou igualar aos deuses. Podendo estabelecer-se ainda um certo paralelismo com a chamada Terceira Idade na tradição judaico- cristã – a Idade do Espírito Santo. Afinal, o que essa ideia do Quinto Império tem pretendido exprimir profeticamente é aquele sentimento que Fernando Pessoa sintetizou na expressão «Saudade do Futuro», e que se refere à exigência de uma nova revolução civilizacional de dimensão planetária. Uma revolução civilizacional planetária (o Quinto Império) para cuja génese cultural a nossa tradição profética tem previsto que Portugal contribua decisivamente.
Este “sonho” profético do Quinto Império constitui efectivamente a previsão de um grande salto cultural-civilizacional e que se há-de dimensionar à escala planetária. Ele implica uma revolução científico-tecnológica e uma revolução ao nível das formas de organização político-social, e a criação de uma estrutura organizativa mundial das nações constitutiva de um autêntico Estado Planetário. Trata-se de um grande salto qualitativo na História da Humanidade, que há-de apoiar-se numa ciência-técnica e num tipo de organização político- -social superiores, e em virtude do que a sociedade tenderá a harmonizar-se cultural-civilizacionalmente com a natureza e os homens a estabelecerem relações ecologistas autênticas entre si e com a natureza e a adquirirem consciência plena da sua dimensão cósmica. E é pressuposto nesse “sonho” profético do Quinto Império que Portugal venha a desempenhar um papel especial neste processo de grande transformação civilizacional da Humanidade, um papel crucial pelo menos ao nível da germinação cultural da Nova Civilização, pelo menos ao nível do lançamento do seu projecto teleonómico. Portugal, partindo em busca das «Novas Índias» como o determina Fernando Pessoa, assumirá de novo um papel pioneiro (um pioneirismo também já manifestado durante o apogeu do primeiro grande ciclo da História de Portugal e que se materializou, então, nos Descobrimentos Marítimos), desta feita um papel pioneiro na germinação do projecto da Nova Civilização. Projecto, cuja essência reside em se fazer germinar na matriz científica do nosso tempo as “cinzas” da chamada Tradição Esotérica, do pensamento Pitagórico (funcionando Pitágoras, genericamente, como placa giratória na corrente da chamada Tradição Esotérica). Elevando-se, assim, formalmente, ao nível de ciência, o Saber Antigo.
À ideia do Quinto Império se associa também a ideia do cumprimento (ou da conclusão de algo que a nós nos cumpre levar a bom termo) de Portugal a dois níveis fundamentais: – a materialização do espírito dos Descobrimentos nas condições históricas do nosso tempo, e a explosão civilizacional da síntese grega, Pitagórica, do Saber Antigo na matriz científica, técnica e política moderna. Ou seja, a recuperação da Ciência dos Deuses na matriz do nosso tempo e na perspectiva da mundialização que lhe deverá emprestar o carácter universalizante da portugalidade.
A essência mais profunda do conceito de Portugalidade é a ideia universalista da fusão cultural à escala planetária. Como o disse Fernando Pessoa: – «cumpriu-se o mar, falta cumprir- -se Portugal». Só que Portugal, aqui, não é mais o território, o povo, a nação, o Estado, portugueses específicos, senão na medida em que incarne a Humanidade inteira na qualidade de polo dinamizador da sua transmutação alquimista à escala de todo o planeta. A própria concepção de Humanismo que já está subjacente aos Descobrimentos Henriquinos, a ideia de Humanidade que eles ajudaram revolucionariamente a formular, não é a de uma Humanidade definida do ponto de vista de um povo, de uma cultura, de um sábio, e nem sequer de um deus; não é a minha ideia de Humanidade, nem a nossa, nem a tua, nem a deles; é a ideia de uma Humanidade de todos os povos, de todas as culturas, e de todos os homens da Terra e até de todos os Seres do Universo. Porque nada está isolado de nada no Cosmos! Por isso, o conceito de Portugalidade definido no âmbito da Ideia, como o conceito de Português definido no âmbito do Ser, são realidades que nada têm a ver com bilhetes de identificação. Eles não se relativizam a delimitações de ordem política ou jurídica, não bulem com caracteres rácicos ou problemas de nacionalismo, nem tampouco com fronteiras de ordem espacial ou de qualquer outra espécie. Aliás, em determinados períodos concretos da sua História, pode haver povos animados de uma dinâmica política e cultural muito mais imbuída de portugalidade do que o povo português nos seus momentos de retrocesso espiritual-cultural. Assim, «... cumprir-se Portugal» pode ainda entender-se como um apelo messiânico, mas não propriamente do tipo específico do messianismo judaico dado, ao contrário deste, o seu cariz universalista e democrático. O messianismo judaico é um messianismo de conquista, expansivo (parte de um centro para a periferia), e tende a impor-se “imperialisticamente” ao mundo; o messianismo português é convergente e objectiva a aceitação universalista dos «deuses todos» (partindo da periferia para um novo centro), quer dizer, aspira à materialização de uma síntese cultural planetária, ou pelo menos tendencialmente planetária, e o seu “império” é forçosamente um imperium “leve” só materializado pela via da Síntese transmutadora e extractora da Quinta Essência ou Quintessência – o Quinto Império. «...Cumprir-se Portugal», é o Quinto Império (assim o padre António Vieira o “crismou”). Mas o Quinto Império será necessariamente um “império” leve, um “império” de novo tipo. Até pelo efeito de transmutação, implícito em todo o fenómeno de quádrupla síntese-análise, num novo elemento qualitativamente superior. E o Quinto Império não será, digamos, imperialista, porque necessariamente apoiado num processo universalista de fusão cultural. «...Cumprir-se Portugal» é «conquistar o Céu», quer dizer, tornarmo-nos semi-deuses pela Ciência Orgânica, pela Tecnorgânica, pela Autogestão Orgânica ou Sofiocracia, como elementos fundamentais de uma sociedade científica e tecnicamente superior e superiormente organizada política e socialmente à escala planetária. »
Fernando Pereira Nogueira, in Cumprir Portugal
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