domingo, 20 de fevereiro de 2011
Desculpe, sim? : pausa para umas necessidades..
Esta semana, andou este tema a rondar-me o corpo, a mente e o espírito.
E nós sabemos, que quanto mais se enxota uma mosca, mais ela insistente nos ‘atazana’ e incomoda, e se a deixarmos zumbir um pouco em volta, ela acaba por ir dar uma volta e ir sobrevoar outro. Bem, também sabemos que por vezes isso não resulta..
Desde que me conheço como gente, que sou uma pessoa simples. Vestir, calçar, falar, viver, ser. Por vezes até demais. A proximidade e gosto pela terra, pela natureza, pelo ar livre, pela simplicidade das coisas e seres vivos, fazia-me ser simplesmente simples e prática.
Passei uma fase da minha vida em que precisei de me ‘afirmar’, ou de tomar as rédeas da minha vida e dar-lhe novo sentido, e sem querer entrei numa espécie de (nova) crise de identidade. Não quero dizer que deixasse de me conhecer, pelo contrário, mas comecei a alargar e ‘complicar’ esse conhecimento que tinha de mim mesma. Isto é, a precisar de encontrar novas formas de me ver e de ser vista. E a procurar uma dimensão diferente e mais feminina de mim mesma.
E tudo aquilo que eu repudiava ou afastava da minha vida, por achar desnecessário, supérfluo, atrofiante, manipulador, ridículo, etc, dei comigo a procurar, ou a seguir, ainda que de forma muito moderada e simples (de novo!), a minha forma, claro.
E para meu espanto, que fugia a sete - mil - pés dos centros comerciais, dei comigo a entrar em lojas onde nunca na vida tinha sequer entrado, e a comprar coisas - sim, coisas! – algumas banidas do meu quotidiano há muito tempo. Falo por exemplo de calçado de tacão alto. Tenho um 1,74cm de altura, sou uma ‘piquena’ mui grande, ;) e a minha necessidade de passar despercebida (não conseguida, diga-se) e a minha simplicidade constante, faziam com que eu comprasse sempre calçado prático, leve, confortável acima de tudo. E claro, raso!.
E de repente dou comigo a ceder e a caminhar uns centímetros acima do solo. (não, não é todos os dias, que eu não aguento!!)
Valha-me Deus! Onde me estou eu a meter ? (e Tu a ver..)
Bom, isto para dizer, que atrás de uns tacões altos (e isto porque passar despercebida, deixou de me fazer mossa) , veio alguma maquilhagem extra e práticas - ditas e pretendidas – femininas, (ainda que esporádicas) como por exemplo, eyeliner, ou unhas dos pés pintadas (!)*. Estava espantada comigo mesma. Mas quem és tu afinal ??!!
Não pensem os leitores que eu era uma ‘minhota de farto buço’ ou uma moçoila ‘dardeia’ (leia-se ‘da aldeia’) sem polimento ou cuidado, mas isto das unhas ou tacões, ou (…) era digamos mais do que ‘necessidades básicas’, ou mais do que era e sempre fora necessário e preciso para mim.
Felizmente que escapei ao ‘síndroma do divorciado’ – se é que é assim que se chama - segundo me disseram, no qual se ‘salta ou procura’ parceiro sexual como forma de substituição e afirmação perante o parceiro perdido. Portanto, não foi por uma questão de ‘caça’ que me propus a estas mudanças e alterações. Mas sim, muitas vezes nesse período de transição, de ‘luto’ e ‘jejum’, uma bonita e sexy lingerie - que só eu via – e todo o meu ’embrulho’, mais elaborado, era tudo o que tinha e queria para me fazer sentir, bem, bonita, desejável e Viva.
Esta lenga-lenga toda para dizer afinal, que as necessidades básicas, são frequentemente escondidas, afastadas, secundarizadas e negligenciadas por nós, sobretudo (algumas) se estamos ou nos consideramos em ‘caminhos espirituais’.
E se é comum aceite que casa, comida, cuidados de saúde, conforto, protecção, afecto, trabalho, (…) (relacionados com o 1º e 2º chakras, de raiz e sexual) são comummente considerados como básicos e indispensáveis na nossa vida, facilmente nos esquecemos e relevamos para segundos e terceiros planos outras necessidades básicas e indispensáveis na nossa vida também.
Coisas tão simples e banais, tão ‘ordinárias’ no sentido de comuns, como espirrar, tossir, bocejar, espreguiçar, coçar, dar um traque ou peido (ehehe, estas 2 palavras nem aparecem no dicionário do Word 7 ..), chorar, rir, arrotar, etc. Que se repararmos estamos (muitos de nós e muitas vezes) a reprimir repetidamente na nossa vida, seja porque consideramos cultural e socialmente inaceitável, seja por qualquer outro motivo ou bloqueio pessoal. Ainda que possamos ser discretos (como convirá, sim, falo sobretudo dos inomináveis acima) em alguns deles, reprimi-los na sua totalidade e dimensão, prejudica-nos, limita-nos, atrofia-nos, condiciona-nos, não permite a livre e necessária fluidez de energia no nosso corpo, na nossa vida. E acaba por nos causar transtornos também físicos mais tarde..
Viver o Dao ou seguir o Tao, o Caminho da espontaneidade natural..
‘Escuta o teu corpo’ diz Lise Bourbeau e o que ele te pede. Nunca li esse livro, aparentemente estava esgotado quando o procurei nas livrarias do Porto. Mas apenas este título já me diz muito. Porque queiramos ou não ** temos um corpo, o nosso templo sagrado que devemos honrar e cuidar com esmero e ‘devoção’ (atenção que não falo de extremos ou exageros, tudo na sua certa medida, e cada um saberá qual é a sua..mesmo que precise em alguma altura de a exceder..)
Quem anda ‘nestas lides’ metafísicas, frequentemente delega para segundo plano, (digo último! ) ou faz por ignorar completamente, esta coisa ‘do apelo do corpo’.
E agora falo sobretudo da nossa - humana- componente sexual. Viemos apetrechados com apêndices, interiores (yin, femininos) e exteriores (yang, masculinos) que também nos dão que fazer nesta vida. Ó, ó..
As nossas necessidades básicas, passam também por aí, e por muito que queiramos ‘andar nas nuvens ou no céu’ , ignorá-las, só nos fará mal. Cada um saberá em consciência, como lidar com elas. E não há conventos, reclusões, ou abstinências e sublimações que nos valham - ‘’Om valha-me Deus’’** como dizia alguém – porque não somos menos espirituais por as termos. Se assim fosse, tínhamos nascido eunucos. Não são o nosso objectivo de vida ou prioridade, mas se aparecem, é deixa-las vir..
…
E agora desculpem sim?
Tenho que ir ali comer um pãozinho de maçã acabado de fazer.
*(felizmente esta coisa não alastrou ao cabelo, e continuo com as minhas ‘madeixas brancas’ naturais de estimação que me dão imenso gozo, e a ir 2 a 3 vezes ao cabeleireiro .((por ano!))
**há uma cena divina (mas não são todas?!!) no ‘’Panda do kung fu’’ em que o Shifu tenta meditar e repete continuamente “paz interior…paz interior…” sem conseguir a tal paz interior que tanto quer…
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