quinta-feira, 28 de maio de 2009

'Não me meto nisso'








Não me meto nisso

Disse uma jovem mulher, da minha idade.
Resposta que deu quando recebera por intreposta pessoa – seu pai, meu amigo – a informação/divulgação escrita minha relativamente à minha prestação de serviços, à massagem ayurvédica, ao reiki.
Do pai, ateu convicto, com uma gigantesca bibliografia religiosa lida de fazer corar qualquer clérigo, eu esperaria esse comentário, mas não contava com “ agora deste em fazer massagens?”
“Não me meto nisso”, abarca todo o vazio, todo o silêncio, toda a ignorância, toda a determinação, todo o medo, todo o preconceito enraizado na mente humana por longas gerações.
O desconhecido é um papão que mete medo e que apetece conhecer, diz Sérgio Godinho, no seu ‘Pequeno livro dos medos’.
Apetece conhecer ou faz-se por conhecer e viver, quando se sai da confortável, previsível, controlável zona de pseudosegurança onde cada um de nós se mete com a ilusória sensação de poder, de segurança, de controlo.
Puro engano. Um dia escorregamos e caímos do tapete e aquele deixa de voar connosco, mas não deixa de nos mostrar toda a porcaria escondida por debaixo.
“Tu és o Universo assim como parte do Universo. Tu és o Oceano e ao mesmo tempo uma gota no Oceano. Larga o controle, o oceano sabe onde te levar.”
A palavra espiritual, despoleta em grande parte do imaginário colectivo um uníssono ‘nisso’, que amedronta, regeita, afasta.
É consciente disso que a escrevo, aplico, a mostro, em vez de simples e confortavelmente a omitir.
Consciente de que se afastarão uns e de que se aproximarão outros.
“ A vida é uma festa onde estão continuamente a sair e entrar pessoas”.
Consciente de que não importa quem entenda, quem aceite, que se afaste, quem regeite. Não importa, quando damos voz activa à nossa consciência, esse grilo falante que nos acompanha, essa primeira idéia que nos alerta, nos ajuda, nos aconselha, mas que muitos calam sob a tirania da razão, da sociedade, da tradição...
Cada um tem o seu ritmo, o seu timming, a sua verdade e necessidade interior.
Não importa se se caminha só, quando se deita a cabeça tranquila na almofada, convicta de que as pedras do caminho, são para ser admiradas, galgadas, pisadas ou contornadas e só tornam esse mesmo caminho múltiplo e rico de variedade, criativo de oportunidade e gratificante de conquistas.
‘Saí do armário’, consciente, não vou voltar a entrar nele.
Apanhei um comboio, ‘o meu’, onde me levará, pouco importa, importa apenas saber, que esta viagem começou...e que darei voz à minha voz interior...até que a voz me doa...

Já me meti nisso!



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