domingo, 17 de outubro de 2010

Fénix ϕοῖνιξ ou a História de um vestido

"A águia é a ave que possui a maior longevidade da espécie, chegando a viver setenta anos.


Mas para chegar a essa idade, aos quarenta anos ela tem que tomar uma séria e difícil decisão. Nesta idade ela está com: As unhas compridas e flexíveis e não consegue mais agarrar as suas presas das quais se alimenta. O bico alongado e pontiagudo se curva, dificultando a caça. Apontando contra o peito estão as asas, envelhecidas e pesadas em função da grossura das penas, e voar se torna difícil.


Então a águia só tem duas alternativas: MORRER... ou enfrentar um dolorido processo de renovação que irá durar aproximadamente 150 dias.


Este processo consiste em voar para o alto de uma montanha e se recolher em um ninho próximo a um paredão onde ela não necessite voar. Então, após encontrar esse lugar, a águia começa a bater com o bico contra a pedra até conseguir arrancá-lo. Após arrancá-lo, espera nascer um novo bico, com o qual vai depois arrancar suas unhas. Quando as novas unhas começam a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas. Só então, após cinco meses, sai para o famoso vôo de renovação, para viver por mais 30 anos."


O meu percurso de vida faz-se através de solitárias, sucessivas (e muitas vezes criativas) mortes e renascimentos.
( Ou não tivesse eu 4 planetas em carneiro, na casa 8..incluindo mercúrio e o nodo norte )

E é nesse continuado e sem aviso morrer e renascer que me vou descobrindo e conhecendo como gente, que me vou edificando e crescendo.

Ninguém gosta de morrer, certo? nem que lhe tirem o tapete..Mas aceitar o processo e essa ausência absoluta de poder e controle, fazem parte desse ciclo.

São sempre processos dolorosos, sofridos, que me levam às masmorras soturnas de mim mesma, a um vazio profundo existêncial, sulcos e fendas em mim, que me fazem questionar, repensar, e por vezes refazer, que põe em causa aquilo que tenho como certo e inquestionável, ou como adquirido, como valores, ideais, limites (auto-impostos, claro), etc.

Processos que me devolvem a minha vulnerabilidade, a fragilidade de ser, que me impõe humildade e redenção perante inquestionáveis e incontornáveis forças cósmicas. Não compreendo por vezes, propósito, sentido, mas tento descodificar o que me é permitido, até onde o meu entendimento, esclarecimento e consciência alcança, e aceitar o que vem como etapa essencial para o meu crescimento, mesmo que me transcenda.

Aceitar é uma palavra-chave. Redenção. ' 'Faça-se em mim segundo a Vossa vontade'.

Em algum momento nesse doloroso processo surgirá 'insight' , meaning, a way out in the Light. A way through and in/with Love. E um renascer e ser fortalecido, pronto para nova etapa. Venha ela!

Neste ser e desfazer, morrer e renascer, Águia, Fénix, Ser, contribuem outros seres, eles próprios nos seus processos individuais de vida e crescimento. Que amorosamente se oferecem para isso. Mesmo quando não dão conta. Mesmo que inconscientemente. Aliás como em qualquer outro processo na nossa vida..

E por vezes é quando ( quem ou aonde) menos espero que surge a epifania, me surgem pistas e saídas, os ditos insights que me transportam e contribuem para um entendimento e sentido (ainda que possa não ser completo ou totalmente definido) , que contribuem internamente de forma consertada e decisiva para o resolver da 'questão', para o meu ansiado e sofrido renascecer.

Desta vez, depois de um (em crescendo e demasiado longo) período conturbado, excessivamente incapacitante e depressivo, como há muito não tinha memória, eis que surge também (porque não foi único) um vestido. (...) Sim a ideia de um vestido, a visão de um vestido com o qual tinha sido feliz e estava em paz. E a absurda ideia (possível quando se está naufrago de vida) de 'salvação' através dele, de aproximação à paz vivenciada e sentida circunstancialmente com ele , paz que fosse restituída ( minimamente se pretendia) com o uso desse vestido de verão, em pleno inverno.

Como se um vestido (casa, pessoa, lugar, coisa...) por si só fosse capaz de nos devolver externamente algo que interiormente não encontramos em nós. Fosse tábua de salvação para o que quer que seja.

Quando não está dentro, não será fora que o encontramos. Amor, Paz, Perdão, Alegria, ...

Por outro lado reconhecida que estava a premissa absurda anterior, lembrar-me desse vestido e desse pacífico instante restitui-me a lembrança de mim própria como me reconheço e desejo, longe, anos-luz desse outro eu apagado e sem brilho e luz que estranha e vagamente sobrevivia.

E lembrar-me de quem Sou,  quebrou de algum modo o 'feitiço' interno e o gelo acumulado. E de algum modo, juntamente com outras achegas, contribuiu para das minhas próprias cinzas me elevar, para voltar a sorrir outra vez, ainda que sem o tal (adorado) vestido.

Agora, posso dizer que o visto... no pico do inverno, ou em qualquer outra altura, porque estou de novo em mim. Em Paz. 

muda, set 2007





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