domingo, 4 de abril de 2010

Vias-sacras interiores



Lembro-me de ouvir alguém amorosamente iluminado dizer que quando as pessoas descobrissem que pondo a ‘mão no peito’* este deixaria de doer, seria uma enorme avanço na humanidade.



Que sofremos, é um facto. ‘Contornável’ e directamente proporcional ao nosso apêgo. Quando digo contornável não quero dizer que o devamos ignorar (contornar) e fazer de conta que não existe essa emoção, esse sentimento e a razão que o provocou. Com isso só vamos conseguir que a nossa alma se retraia em uníssono com o nosso corpo, para nos chamar a atenção. Quero dizer que se ainda não temos a capacidade de não ter essa dor, é porque provavelmente precisamos de a vivenciar para entendermos e reentegrarmos algo em nós perdido.



A dor toca um vazio que já existe em nós. Atraímos esse acontecimento, pessoa, momento nas nossas vidas, um espelho que nos devolve partes de nós mesmos que precisam de ser curadas e harmonizadas. Temos dor, por vezes porque algo na nossa vida não deu certo. As nossas acções são por sua vez também resultado daquilo que pensamos e aquilo que pensamos está eminente e directamente ligado ao nosso sistema de crenças, aos nossos valores.



Quando algo não funciona, é essa raiz de valores que requer a nossa atenção e ‘ajuste’, onde podemos procurar a mudança.



Muitas das vezes é tão simplesmente porque não nos deixamos fluir com a impermanência, com a mudança nas nossas vidas, seja no caso de morte, de separação afectiva, separação física, etc.



Resistimos, não nos permitimos nem aceitamos os acontecimentos, as pessoas como parte de um fluxo de vida em constante mutação, vida essa que nós não controlamos de todo, por mais poder sobre o próprio, ou os outros que julguemos ter. Nós não temos poder. Esse poder.



Temos um poder incalculável, de força, de amor, de cura, (…) , porque fazemos parte indissociável do Todo que nos alimenta e nutre, e do qual nos distanciamos amiúde. Essa centelha divina, que tudo é e tudo pode e que habita em nós, todos nós. Sempre a toda a hora acessível e vivida em qualquer momento.



Por isso me incomoda o culto da via-sacra. O culto da dor. Quando sei que a energia que me habita tem a capacidade de me regenerar, de me curar, de me amar, sem me fazer sentir miserável por errar, indigno por falhar, incapaz e impotente à dor como se esta fosse via de salvação, como via de redenção. A dor não é o caminho.



Não vim à Terra para sofrer. Vim para lembrar o que já soube , vim lembrar o que sou em cada pequena etapa. A dor faz parte momentânea dos nossos processos de vida, faz parte dos vazios e buracos negros em nós. Mas não é o destino.



O esclarecimento da nossa alma permite-nos ousar outras saídas. Vivenciando a dor, atravessando-a, sentindo-a, mas saindo dela. Não procurando razões, motivos, passados ou presentes para a alimentar e fazer crescer em nós.



Via-sacra interior para mim é nutrir essa dor e procurar momentos ( seja através de músicas, lugares, palavras, fotografias) em nós para ela crescer. Ao passado vamos, ao que já foi e já não é. Por isso também dói. Não dissociarmos afectivamente (desapego) o que já foi um dia, do dia de hoje. Essa impermanência, essa ausência. Essa falta de poder de restaurar o que foi, é passado, já foi, já não existe. Não é verdadeiro, não pertence ao aqui e agora. Não pode ser (re)vivido.



Sentir dor é uma coisa, alimentarmo-nos nela é outra muito distinta.



Ao alimentarmos a dor estamos a descer o nosso padrão de vibração energético, a densificarmo-nos na matéria com todas as consequências negativas que daí advém..



A nova era. O aumento da consciência, traz-nos responsabilidades sobre nós próprios e sobre os outros também. Cabe-nos aceitar e vivenciar a dor, percebe-la sem a ignorar, senti-la, mas encontrar meios , pequenos passos para aos poucos sairmos dela. Esses pequenos passos podem ir, desde ouvir uma música /som que nos alivia nos faz sentir bem, a olhar para fora de uma janela e ver ‘o mundo/dor’ além da nossa, apreciar e cheirar uma flor, a dar um passeio pela natureza, a escrever, …



Só estando numa situação de algum equilíbrio, poderemos ‘vasculhar’ os nossos pensamentos e sentimentos e tentar perceber melhor o que aquela dor/problema(amigo!) nos traz de novo.



A dor é uma oportunidade de expandirmos consciência. É alquímica, tem poder de transformação, de transmutação, se o quisermos encontrar.



Só com alguma harmonia interna, poderemos ter algum discernimento interior que nos deixe aceitar e nos permita seguir em frente, fluir com a vida diante(em) de nós.



Outro alguém especial (Roop Verma) diz que : ” a vida é uma festa…onde estão sempre a entrar e sair pessoas…”

*auto-reiki

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